Desde 1998 que a SCMH recebe um grupo de jovens do colégio Planalto de Lisboa. Este grupo de jovens durante a sua estadia colabora em todo o género de serviços, na cozinha, na lavandaria, nos serviços de limpeza e na animação dos nossos idosos.
Durante a sua estadia a nossa casa ganha vida e o amor que estes dedicam a cada idoso é devolvido com sorrisos.
Com poucas palavras e alguns gestos, este grupo de jovens consegue fazer-nos sentir a presença de Deus e simplificar o dever de ajudar o outro.
Eis o seu testemunho:
Este foi o nosso segundo ano de voluntariado no Faial. O ano passado tinha sido inesquecível. Desta vez ainda foi mais surpreendente já que não esperávamos que pudesse ser melhor. Entre muitas outras coisas podemos dizer desde já o que mais nos impressionou: as saudades que os velhinhos tinham de nós apesar do pouco tempo que ali passámos. Só ali percebemos como podemos ser tão importantes ajudando tão pouco.
A chegada foi uma festa. Cantámos os parabéns. O Humberto, um dos idosos, fazia anos. Não sabia quantos. Também não se importava com isso. Queria apenas saber quanto tempo ficaríamos ali. Todos os dias ouvimos a mesma pergunta. Todos os dias ganhávamos consciência de quanta falta fazíamos.
Nem todos os idosos reagiram da mesma maneira. O Sr. Horácio estava sempre muito alegre e parecia muito indiferente à nossa presença. No último dia, na despedida, prorrompeu num grande choro e não se quis despedir. Não esperávamos. Talvez nem ele próprio.
De facto, o que fazíamos ali para merecer tanto agradecimento? Pouca coisa. Pequenas coisas. Dar de comida, fazer as camas, passear os velhinhos, conversar, jogar às cartas. Tudo o que qualquer pessoa sabe e pode fazer. Nada mais. Difícil é o trabalho de tantas funcionárias que ali se esforçam por cuidar destes idosos. Exactamente porque é monótono, diário, habitual, chama pouco à atenção. Seja como for, nós notámos. Esmeravam-se na refeições que nos preparavam, lavavam-nos a roupa – chegaram mesmo a coser algumas peças! – e houve até quem dormisse mal só de pensar que uma tempestade nos fizesse passar uma má noite…
Não há, porém, casa sem tristeza. Enquanto um voluntário separava a roupa dos velhinhos na lavandaria, perguntou em que monte colocar uma determinada peça de roupa. Não teve resposta imediata. Ouviu apenas um comentário: “nunca me conseguirei habituar a isto!”. Depois, a meia voz, lá se explicou: «essa senhora faleceu ontem…»
Dois de nós foram ao funeral. A velhinha já não tinha familiares. Fomos nós a sua família.
Outro dia amanheceu e as necessidades de tanta gente faziam-nos continuar em frente. Às vezes muito pequeninas. Uma velhinha pediu se o “menino do violino” não poderia tocar no quarto dela pois não conseguia caminhar até à sala de convívio. O Manuel lá foi mas não tocou sem deixar de esclarecer que aquilo não era um violino mas uma viola de arco! Mesmo assim, a distinção não foi reconhecida no comentário final: «nunca pensei que alguém viesse aqui ao meu quarto tocar violino só para mim!»
Para terminar, não podemos deixar de falar da festa de Nossa Senhora da Saúde na Feteira. A Santa Casa, com funcionários e utentes do CAO, fizeram uma marcha popular. Nós aprendemos a letra e cantámos. Houve quem nos comentasse que não imaginava que gostássemos desse tipo de festas. Nós também não sabíamos. Cantámos e gritámos até não poder mais. No dia a seguir houve mesmo quem ficasse sem voz (não se perdeu nada, diga-se de passagem).
E agora aqui estamos, no “continente”, num Portugal que cada vez nos é maior.
Rui e Pedro
Que dias! Ficarão para sempre gravados nas minhas mãos. Dei o que podia...umas desajeitadas e desabituadas mãos prontas a ajudar a quem delas se arriscasse a socerrer. O mais incrível é que recebi uma majestosa gratidão por parte daqueles que me ensinaram a saber ajudar... e pensar que eu pensava que eram eles que precisavam de ajuda?!!
ResponderEliminarDeixo aqui uma mais que merecida, mas injusta porque pequena, homenagem a todos os colaboradores da SCMH pelo escondido mas digníssimo serviço que prestam todos os dias a todos os que vivem neste Lar.